
Uma vez, cogitei morar em outro país e fiz umas contas analisando todos os cenários financeiros do que eu precisaria para me manter e ser feliz com bens materiais e imateriais. Cheguei à conclusão de que eu poderia trabalhar na C&A (devem dar primazias a personalidades de Brejo Santo) e vender outras horas como cuidadora de crianças ou idosos. Comentei o assunto com alguns mais próximos e uma fenda se abriu frente a mim: “como é que você que tem (zzzzzzzzzz) cursos, (blábláblá) idiomas e passou a vida estudando (quem não passa?) vai se submeter a…” Pois é, “se submeter” foi o termo usado. As pessoas ainda veem alguns empregos com bastante preconceito. Eu não tardaria a me adaptar ao cenário que criei, mas o fato é que amo muito meu trabalho, meu país e ainda sou bastante luxenta.
Estamos (há muito tempo) em um momento de rompimento de crenças, em que precisamos descer do salto para ver que não somos tão brilhantes assim. E, se somos, talvez esse brilhantismo não vá além da vaidade nas rodas sociais, na sua bolha. O fato de você falar quatro idiomas pode não influenciar em nada no seu salário ou no seu momento profissional se esse conhecimento específico não é utilizado.
Em vez de apenas fazer um curso superior para seguir determinada profissão, pense em como suas inclinações, habilidades ou seus conhecimentos podem ser convertidos em remuneração. E não tenha vergonha em ganhar dinheiro honesto, precisando ou não de uma universidade.
Não somos eternos, queremos prazer além das obrigações. Por isso, pense em suas horas dedicadas ao trabalho como pedaços de sua vida que estão à venda. Veja quem está interessado em comprá-los. E se assegure de que o restante de suas horas – as que você não vende – seja bem mantido pelas que você vende. Que conhecimento fará suas horas custarem x ou y? Invista nisso se achar que dá retorno.
No mais, vamos em frente. Nem sempre seu patrão é mau. Às vezes ele é seu igual e não está atento à letra de Belchior: “é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem…”
Ana Cristina Lima
Jornalista